Indústria 4.0 foi o tema central do segundo dia do Fórum TecnoCarne e empresas participantes da feira apresentam suas inovações tecnológicas focadas em produtividade e segurança
O conceito de Indústria 4.0 abriu a programação do segundo dia do Fórum TecnoCarne, espaço dedicado a debates e palestras sobre temas relevantes para a indústria de processamento da proteína animal, promovido durante os dois primeiros dias da 14ª edição da TecnoCarne, feira referência do setor na América Latina, que vai até hoje (8/8), no São Paulo Expo.
A palestra que abriu o evento exemplificou aos presentes os primeiros passos para que uma indústria implante esse conceito em suas operações, destacando principalmente que essa transição não demanda grandes investimentos, mas, sim, conhecimento da situação da empresa e do mercado. “Hoje a Indústria 4.0 é muito mais do que uma revolução tecnológica. Adequar-se ao modelo é essencial para as empresas que querem sobreviver no mercado”, destacou o Antônio Carlos Cabral, que é Coordenador do Curso de Eng. de Produção e da Pós-Graduação em Engenharia, Instituto Mauá de Tecnologia.
“O ponto mais importante desse processo é que a empresa entenda qual o seu lugar no mercado, conheça sua atual situação e identifique quais soluções podem ser instaladas em seu negócio para que comece essa transição. É um processo longo, que envolve esforço de toda a equipe, mas deve ser contínuo”.
Os visitantes da TecnoCarne encontram na feira mais de 100 marcas com as mais recentes inovações para implantar o conceito da Indústria 4.0 em seu negócio, focadas especialmente em produtividade, melhorias dos processos industriais e segurança.
Presente no evento desde a chegada da empresa no país em 2000, a Handtman apresenta aos visitantes a linha PVLS 125, que proporciona aos clientes a opção de dobrar sua produção no mesmo espaço, com uma melhor otimização no processo. “A partir do uso dessa tecnologia é possível produzir, em uma linha com até quatro pessoas, por exemplo, cerca de 1.600 kg/h de linguiça frescal, resultado que é praticamente o dobro do que é produzido atualmente com as tecnologias disponíveis”, afirma o diretor a Handtman do Brasil, Mariocy Bonfim. “A TecnoCarne é uma feira muito interessante para o nosso negócio, pois reúne visitantes que estão em busca de inovações. Temos como histórico a geração de muitos negócios aqui, por isso estamos com boas expectativas”, destaca Bonfim.
Pela segunda vez no evento, a JBT destaca a sua importância como um canal de comunicação entre as empresas do setor. “A feira é um espaço onde conseguimos nos aproximar de novos contatos, que normalmente não temos acesso pelos canais habituais. Aqui estão os principais tomadores de decisão, o que nos permite não só fortalecer o relacionamento com nossos clientes, mas a oportunidade de apresentarmos nossos projetos para um público que ainda não nos conhece”, enfatiza o gerente de vendas, Fabio Viegas. A empresa destaca nesta edição da TecnoCarne as máquinas que foram incorporadas à linha, por meio das recentes aquisições realizadas pela JBT. “Em nosso estande destacamos a tecnologia HPP (High Pressure Processing), conhecida no Brasil como ‘pressurização a frio’. Esse processo permite a formulação de produtos com menos sódio, conservantes e outros aditivos, que tenham um shelf life igual ou até maior que dos produtos convencionais, mantendo o seu sabor e frescor”, destaca Viegas.
A Tecmaes, que participa da feira pelo sexto ano, destaca a embaladora automática de frangos inteiros com sistema de fechamento com fita adesiva, além do lançamento do Termodatador de folheamento – Superflash e os equipamentos da nova parceria com a italiana SACCARDO. “Além de seguir as principais normas de segurança, que são uma exigência do mercado, nossos equipamentos oferecem maior produtividade para o negócio e mais conforto ao operador”, salienta o analista de Marketing da Tecmaes, Juliano Farina. “Estamos confiantes que o mercado está retomando o crescimento e que será uma boa feira para gerarmos novos contatos e ótimas negociações.”, finaliza.
Ciclo de palestras
Com uma programação de palestras gratuitas ao longo dos três dias de evento, o Ciclo de Palestras da TecnoCarne é um espaço dedicado a compartilhar conteúdo, discussões e tecnologias que contribuem para aprimorar a cadeia produtiva como um todo.
Um dos temas abordados foi “Hormônio no Frango – Mito a ser desmistificado”, abordado pelo pesquisador do Instituto de Zootecnia (IZ), da Secretaria de Agricultura Abastecimento de São Paulo, José Evandro de Moraes. De forma bem didática, Moraes explicou aos participantes que hormônios são substâncias químicas fabricadas pelo sistema endócrino com a finalidade de evocar ou excitar e que alguns podem também ser processados de maneira sintética.
No Brasil a administração de hormônios sintéticos aos animais por qualquer meio é proibida, porém, conforme apresentado pelo pesquisador, 69% dos consumidores brasileiros ainda acreditam na existência da substância na produção de carne de frango. Para o pesquisador, é mais fácil embutir um mito na sociedade do que contar uma verdade que ninguém quer saber. “O mito nos mantém feliz e gostamos dele porque é ferramenta de aprendizado”, explica Moraes, enfatizando a importância de o setor trabalhar de forma integrada para esclarecer essas questões ao consumidor.
Outro tema abordado no Ciclo de Palestras da TecnoCarne foram as oportunidades para o Brasil liderar o emergente mercado de carne bovina Kosher e Halal na Europa. Felipe Kleiman, da Kosher Consulting destacou o cenário atual do mercado, que tem cada vez mais o bem-estar animal no centro das preocupações colocando em xeque os modelos de abate. “Percebemos na Europa que as legislações estão sendo atualizadas com base em queixas sobre bem-estar animal e o abate religioso sem sensibilização”, pontua. Por regra, o corte Kosher não permite o atordoamento do animal antes da degola. Segundo as tradições judaicas essa prática torna a carne imprópria para consumo.
A alternativa então é a contenção do animal para o abate. Desde 1º de julho de 2018 passou a vigorar em Israel uma Instrução Normativa de utilização obrigatória do Box Rotativo de Contenção de Bovinos, que deve estar alinhado a um programa de controle de bem-estar animal sujeito à fiscalização da autoridade agropecuária de Israel. Cada máquina tem um custo de implantação aproximado de meio milhão de reais, um investimento que pode abrir portas para o mercado europeu, segundo avaliação de Kleiman.
Existe hoje um movimento na Europa que busca criminalizar o abate Kosher e Halal, o que vem fechando vários mercados. Dessa forma, surge um novo mercado que precisará ser abastecido por outras fontes. Brasil e Mercosul lideram a corrida e os entre os possíveis concorrentes estão os Estados Unidos, Canadá, Lituânia e Leste Europeu.
De acordo com o consultor, para conquistar fatias do mercado Kosher e Halal o segredo é priorizar o bem-estar animal. “Se essa é a demanda devemos nos sobrepor aos desafios e alcançar um alto nível de bem-estar com acreditação mundial. Afinal, hoje não basta ser: é preciso provar”, salienta Kleiman.
As palestras seguem até o último dia do evento e nesta quinta (8/8) tratarão de temas, como “Sistemas de cozimento contínuo de salsichas e mortadelas”, “Novas tecnologias e tendências em sistemas de cozimento”, “Rotulagem e Transgênicos, o que já sabemos?”, “Higienização e desinfecção da indústria e equipamentos” e “Inovação em Embalagens de alta barreira – tendências”.
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Fernanda Aparecida Schmeing é criadora e administradora do site Assessoria Animal, presta serviços de assessoria e consultoria em administração de haras, cria cães da raça Border Collie.